quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Meditação altera fisicamente o cérebro!!! "aumento da massa cinzenta no hipocampo (região relacionada com memória e aprendizado) e redução na amígdala (relacionada com ansiedade e estresse) depois do treinamento"


Alysson Muotri

Quando comecei a prática de yoga profissionalizante, eu estava apenas interessado nos benefícios físicos. Afinal, seria uma desculpa para aprimorar o equilíbrio e ganhar resistência – ambos importantes para quem vive num ambiente competitivo e muitas vezes estressante. Confesso que dei pouca atenção às aulas de meditação, mas notei os efeitos dessa prática no meu desenvolvimento profissional.
Já conhecia os efeitos da meditação no aumento da capacidade de concentração (Slager e colegas, “PLoS Biology”, 2007). Também sabia de estudos prévios conectando a pratica da meditação com redução da pressão arterial (Scheneider e colegas, “Circulation”, 2009). No entanto, tinha a impressão que os efeitos só seriam aparentes depois de longos anos de prática.
Doce ilusão. Um trabalho recém-publicado promete agitar essa linha de pesquisa ao mostrar que 16 voluntários que seguiram práticas de meditação durante meia hora por dia apresentaram alterações físicas notáveis no cérebro após 8 semanas. Regiões relacionadas com memória, aprendizado, empatia e estresse foram significativamente alteradas (Holzel e colegas, “Psychiatry Research”, 2011).
As imagens cerebrais foram capturadas por scanner MRI e mostraram aumento da massa cinzenta no hipocampo (região relacionada com memória e aprendizado) e redução na amígdala (relacionada com ansiedade e estresse) depois do treinamento. Essas são alterações fisiológicas reais, determinadas por métodos conhecidos em neurociência. Interessante notar que não houve alteração na ínsula, uma região do cérebro responsável pelo reconhecimento e atenção de si próprio. Os autores especulam que um treinamento maior poderia alterar essa região também.
A meditação escolhida pelos cientistas não tinha nenhuma relação religiosa, é conhecida como “mindfulness meditation”. Esse tipo de meditação tem como meta eliminar qualquer preconceito de sensações e sentimentos durante momentos de introspecção. A ideia da prática é focar em objetos visuais ou mesmo sensações ou respiração, evitando a dispersão da mente e prestando atenção na resposta do corpo.
Obviamente o cérebro humano é bem complexo e fazer a ligação entre essas alterações e uma melhor qualidade de vida não é simples. Um outro estudo demonstrou que praticantes da meditação ativam de forma diferenciada regiões do cérebro relacionadas com empatia ao ouvir sons de pessoas sofrendo (Lutz e colegas, “PLoS One”, 2008). Mas o que isso realmente significa? Teriam eles mais compaixão? É realmente difícil determinar causa e consequência nesse tipo de experimento em humanos.
De qualquer forma, é possível extrair duas grandes lições desse trabalho. Primeiro, o cérebro é muito mais plástico do que os cientistas imaginavam a 5 ou 10 anos atrás. Leva-se mais tempo para alterar músculos do que o cérebro. Segundo, a forma como nos sentimos (calmos, estressados ou ansiosos) é seguida, ou pelo menos correlacionada, com indicadores estruturais reais em nossos cérebros. A distância entre a mente e o cérebro ficou menor.
http://g1.globo.com/platb/espiral/
Alysson Muotri é biólogo molecular formado pela Unicamp com doutorado em genética pela USP. Fez pós-doutoramento em neurociência e células-tronco no Instituto Salk de pesquisas biológicas (EUA). Hoje é professor da faculdade de medicina da Universidade da Califórnia. Surfista e iogue, costuma ter insights entre uma onda e outra.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Mudra: os gestos do yoga.

Mudras são gestos realizados com a mente, as mãos, os pés, a boca, os olhos ou com o corpo todo. São muito usados no Yoga e nas danças indianas, pois fazem uma reverência a vários aspectos das divindades hindus e da natureza. Nas palavras de Caio Miranda (1962), os mudras, "encerrando um profundo simbolismo, têm por objetivo unificar dualidades, como por exemplo, unir a consciência individual à consciência cósmica, o prana solar ao prana lunar, a matéria ao espírito, etc". Tanto os yogues como as dançarinas hindus dedicam muitos anos aprimorando-se na prática dos mudras, que exige treinamento e concentração nos detalhes.
No contexto do Hatha Yoga, os mudras são elementos que dão suporte à prática. Outros componentes dos suportes do Yoga são: os bandhas ou contrações, os kryias ou técnicas de purificação interna, os mantras ou sons sagrados. No Gheranda Samhita, texto clássico do Hatha Yoga, encontramos que "o processo útil que colabora nas práticas de pranayama, pratyahara, dharana, dhyana e samadhi (1) se denomina mudra" (Souto, 2002). Constatamos, assim, que os mudras estão ligados às principais técnicas utilizadas no Hatha Yoga, e em geral são praticados concomitantemente com elas.
Nos textos tântricos, que expõem um Yoga muito antigo, os mudras estão diretamente ligados aos rituais. Associados à entoação de sons e à visualização mental, simbolizando o corpo (mudra), a palavra (mantra) e o espírito (visualização), acontece a invocação da divindade que se deseja estar em comunhão (Kupfer, 2001).
Os mudras não são exclusivos da Índia. São encontrados em muitas tradições espirituais do oriente e do ocidente. Os budistas, os sufistas, islamitas e também os cristãos usam os mudras, como apoio para suas orações e práticas espirituais (Rammm-Bonwitt, 1997).
Vale ressaltar que o Hatha Yoga busca integrar as polaridades representadas por HA - energia expansiva, solar, coletiva, macrocósmica, e THA - energia receptiva, lunar, individual, introspectiva, microcósmica. É nessa integração que o praticante vive um estado de consciência além do eu, um estado transpessoal, integrado com o Universo, de criatividade e cura.
Os mudras são ligados ao fluxo das energias, tanto na mente como no campo energético, e fazem correspondência com o corpo físico, especialmente por meio do sistema endócrino e do sistema nervoso simpático e parassimpático. Para o físico indiano e estudioso do Yoga, Harbans Lal Arora (1999), "eles produzem efeitos fisiológicos e psíquicos benéficos, proporcionando a saúde psicossomática, o equilíbrio dinâmico e a harmonia interna".
A palavra sânscrita mudra deriva de duas raízes, mud e ra, tendo diversos significados. Pode ser traduzida por deleite, alegria ou prazer, pois ao conectar as correntes de energia solar e lunar nos canais e centros energéticos ou psíquicos do praticante, esse experimenta a consciência do prazer. Segundo Dr. Gharote (2000), "um comentário de Raghavabhata no Sarada Tilaka 23:106 explica (...) que mudra dá uma sensação de bem-estar e felicidade."
Outro significado para mudra é magia ou encanto, pois, como num passe de mágica ou num encantamento, um determinado gesto corporal conduz o indivíduo a um respectivo estado de mente calma ou feliz. Assim, os mudras são também chamados gestos de poder.
São conhecidos como selos (Feurerstein, 2001), pois, por meio do controle das energias vitais, selam o corpo e geram alegria. Os grandes sábios da Índia, há mais de 4000 anos, conhecendo profundamente a anatomia e a fisiologia energética do ser humano, e compreendendo a estreita relação entre o aparato energético e o psíquico, perceberam que poderiam produzir estados mentais específicos a partir da colocação do corpo, ou partes do corpo, numa determinada posição gestual. Os gestos, como selos, fixam na mente um estado particular e favorável ao praticante do Yoga.
Todos nós experimentamos o caráter arquetípico dos mudras quando, num determinado estado emocional ou numa situação específica, realizamos um gesto que qualquer outro ser humano, em qualquer parte do planeta e em qualquer outra época, também o faz. Por exemplo, quando juntamos as mãos em prece para orar, reverenciar ou em sinal de agradecimento. Ou quando abanamos a mão para cumprimentar uma pessoa, num encontro ou numa despedida. São gestos universais, que as pessoas fazem, em todas as partes, desde a antiguidade. Muitos gestos corporais estão no inconsciente coletivo, como diria o psicanalista suíço Carl Gustav Jung, ou, como dizem os orientais, estão no Akasha, o espaço cósmico, onde estão armazenados todos os conhecimentos da Humanidade, desde os primórdios (Miranda, 1962).
Um gesto freqüentemente usado no Hatha Yoga para dar suporte à concentração e à meditação é o jñana mudra, símbolo da sabedoria ou do conhecimento, em que a ponta do indicador e a ponta do polegar se unem e ou outros dedos permanecem estendidos. O polegar representa a alma universal, e o indicador, a alma individual, que se unem para facilitar o estado interior de integração. Assim como este, existe outros mudras, com um simbolismo próprio.
Concluindo, citamos a bailarina e pesquisadora dos mudras, Sabrina Mesko (2003), da Eslovênia, dizendo que "mudra é a senha de acesso aos dados do seu computador interior - seu poder invisível".

(1) Pranayama, pratyahara, dharana, dhyana e samadhi são respectivamente respiração que controla a energia vital, recolhimento dos sentidos, concentração, meditação e auto-realização.

Bibliografia Consultada e Referência Bibliográfica:

Arora, H. L. A Ciência Moderna à Luz do Yoga Milenar. Nova Era, Rio de Janeiro, 1999.
Feuerstein, G. A Tradição do Yoga. Pensamento, São Paulo, 2001.
Gharote, M.L. Técnicas de Yoga. Phorte Editora, Guarulhos, 2000.
Gharote, M.L. Yoga Aplicada - da teoria à prática. Phorte Editora, Londrina, 1996.
Mesko, S. Mudras que Curam - Yoga para suas mãos. Pensamento, São Paulo, 2003.
Miranda, C. Hatha Yoga - a ciência da saúde perfeita. Ed. Freitas Bastos, Rio de Janeiro, 1962.
Radha, S.S. Hatha Yoga - the hildden language. Jaico Publishg House, Mumbai, Índia, 1996.
Ramm-Bonwitt, J. Mudras - as mãos como símbolo do cosmos. Pensamento, São Paulo, 1995.
Souto, A. El Yoga de la Purificación - Traducción y Comentario del Gheranda Samhita, Editora Lonavla Yoga Institute, Buenos Aires, 2002.
Souto, A. Uma Luz para o Hatha Yoga Transliteración, Tradccion e Comentário y Notas sobre el Hatha Pradipika, Editora Lonavla Yoga Institute, Bos Aires, 2000.
Yogendra, S. Hatha Yoga Pradipika - luz sobre o Hatha Yoga. Instituto Dharma, Florianópolis, 2002.

Visite o website da professora Lúcia Nabão em www.ganeshanet.com.br